domingo, 10 de dezembro de 2000

Carioca e a touca

Tem um morador da pensão, já senhor, que se faz passar por carioca típico, malandro, aposentado por invalidez, ainda jovem, vida boa, sai às noites para ir nas gafieiras em busca de uma senhora rica que caia na dele e o sustente. É super engraçado ver ele ali, pois, tem um jeito afeminado, vive a maior parte do tempo (quando está na pensão), na cozinha preparando seus pratos ou lavando a louça.
Só anda com um roupão bege pela casa e chinelos e as vezes, uma touca na cabeça. Esse adora desfilar pelos corredores fazendo barulho e clamando por atenção, além de falar EXTREMAMENTE alto, principalmente ao telefone (ele tem um telefone só dele, dentro do quarto). O passatempo preferido dele é encher a boca com água, gargarejar pelos corredores e engolir ou cuspir na pia da cozinha.
UGH! É a mesma sensação que tenho, ao ser acordado pelos gargarejos.

O banho da princesa

O rapaz que trabalha numa firma de vigilância à noite e está sempre estudando é o que tem o maior ritual para o banho.
Desce ele do seu quarto (que fica em um comodo construído no teto da casa), com suas roupas, toalha e um saco de plástico, desses de supermercado, que usa como necessaire. Pendura na porta do banheiro e sai para conversar com os outros na cozinha. Ele também fala alto como o Carioca, parecendo ter sido criado do lado de uma cachoeira.
Quando entra definitivamente para tomar banho, leva junto uma cadeira de plástico, para sentar embaixo d'água.
Liga o chuveiro, molha o corpo e senta no vaso sanitário para fazer suas necessidades, enquanto a água cai... arrota, dá descarga e entra na água, passa creme de barbear no rosto e vai para a pia se barbear. Termina de fazer a barba e volta para o chuveiro. Volta e meia canta o mesmo trecho de um pagode romântico "Eu era feliz..."
Sei de todos os movimentos pelo barulho, pois, o banheiro fica ao lado do meu quarto. Só fico curioso para saber o que ele faz com a cadeira? Será que ele se depila ou fica esticando o corpo debaixo d'água, se achando a garota do flash dance?
Gargareja, canta e começa a entoar sons vocálicos:
- HUM, HUM, AHUMMMMMMM!
Gasta tanto tempo que eu imagino ser possível coreografar os movimentos dele e transformar esse banho em um ballet.
Quando ele sai, deixa o banheiro totalmente molhado, água por todos os lados, na janela, na tampa do vaso sanitário, no acento, no espelho, nas paredes. Parece até que ele joga água nas paredes para espantar os pernilongos.
As vezes preciso usar o banheiro depois e gasto metros e metros de papel higiênico para enxugar o acento e a tampa do vaso sanitário.

sábado, 2 de dezembro de 2000

Respondendo a altura

Em uma imobiliária ouvi o seguinte diálogo entre um funcionário e o cliente, que retornara de uma visita que fez a uma casa que estava para locação nesta imobiliária.
-Eu fui lá, mas, não tem condição!
- Como assim?
- Tá com portão quebrado, muro, janela, tudo arrebentado, não tem jeito não, se eu vô pagá eu quero um lugar descente... essa casa nem que me derem de graça eu não aceito!
A funcionária tomando as dores diz:
- Mas por esse preço o senhor não vai achar uma casa perfeita que esteja tudo certinho.
- O Cara que colocou essa casa para alugar...quem tem coragem de colocar uma casa naquele estado para alugar deve ser doente da cabeça. Responde o cliente.
- Senhor, felizmente nem todo mundo pensa como o senhor. Tem gente que paga, tem gente que não reclama.
- Mas essa eu não quero!
- Mas, pelo preço que o senhor quer pagar não vai conseguir nenhuma.
O cliente se levantou nervoso e foi embora.
Ai essa funcionária se levante, vai até onde estão outros dois e passa a "ensinar" eles:
- Olha! Vocês estão autorizados a responder a altura com o cliente.
Não pode deixar ele ir xingando assim o escritório, não!
Responde mesmo, senão eles montam cavalo.
E depois isso pode fazer ele sair falando mau da imobiliária para os outros. Não deixa não!
Ele não pode falar assim na nossa empresa.

Legal! Fico imaginando qual a imagem que o cliente tem agora, da empresa, já que ela falou a "altura" com ele.

Sorocaba, 02 de 12 de 2000

quarta-feira, 29 de novembro de 2000

Vendedor de bilhetes e o aleijado

(Calçadão em frente a telefônica)

Tinha um senhor que vendia bilhetes, tão dado, que gritava pelas ruas:
- Olha o bilhete premiado, olha a mega sena, compre!
Um dia estava tão chateado por não conseguir vender os bilhetes que começou a reclamar:
- Droga, ninguém quer comprar bilhete?
- Não tô robando não!
- Ei? Mão quer ganhar dinheiro?
- Ninguém quer dinheiro?
- É bilhete premiado!
- Droga! Merda!
Ai ele avistou um aleijado. Um senhor que fica o dia todo no mesmo lugar com uma cadeira de rodas e à noite dorme lá na praça mesmo.
Chegou perto dele e vendo que este tinha uns trocados no boné que usava para pedir esmolas... não pensou duas vezes, pegou 1 real e deixou um bilhete de loteria.
O aleijado começou a questionar, mas, o outro ia embora dizendo:
- Se vai ganhar dinehiro, reclama não, o bilhete vale mais.
Não preciso dizer que o aleijado continuou por lá durante muitos anos.

terça-feira, 21 de novembro de 2000

Ticket

Tenho almoçado graças a uma pessoa que gosta muito de mim e paga o almoço, nas jantas como algumas bolachas água e sal e uma xícara de leite com achocolatado. Os mantimentos foram comprados pela mesma pessoa, guardo-os no quarto, como o leite é em pó, não preciso de geladeira.
O quarto é pequeno mas está ótimo e é tudo o que preciso.
Hoje vesti uma das roupas especiais que guardo para entrevistas, constituído de calça azul marinho, camisa azul claro, sapato preto e gravata azul

segunda-feira, 20 de novembro de 2000

Praça das bandeiras

Será mesmo que estou na praça das bandeiras?
Vejo alguns bancos de concreto, palmeiras, algumas árvores, jardins com muita grama e poucas flores, postes de iluminação e... nenhuma bandeira, nem um mastro sequer.
Sorocaba tem uns bairros com nomes engraçados... e agora tem praça com nome nada a ver.
Vejo uma placa indicando "Além linha".
Já vi outro dia "Além ponte".
Ainda bem que é "além linha" e não "fim da linha", aliás, por falar em fim da linha lembrei de um fato engraçado.
Tinha uma cidade que no lá no último quarteirão antes de acabar a cidade, fundaram uma igreja e na sua fachada tinha o letreiro "Igreja do último dia".
Um dia, chegou um forasteiro a esta cidade e vendo a igreja sempre cheia pensou:
- Oras, pois vou montar um negócio melhor que este!
comprou um terreno no quarteirão antes da igreja e construiu seu negócio.
"Casa de massagens do penúltimo dia"
É! Eu sei! A piada foi péssima, mas serviu para introduzir (sem trocadilhos) ao que aconteceu a seguir na praça das bandeiras.
Aproximou-se uma morena com muita "saúde" (para bom entendedor uma palavra basta), sentou-se no banco da frente, procurando chamar a atenção, discretamente.
Cruzava as pernas etc. Mudou para o banco ao lado do meu, e começou o ritual...e eu na minha com cara de "gringo" bobo.
Levantou-se, aproximou-se e perguntou as horas. Falei e ela saiu. Foi até a esquina, pensou e voltou, tropeçou no caminho como por acidente, olhei e sorri. Pronto ela sentiu que podia se aproximar. Sentou ao meu lado confirmou as horas e rolou o seguinte diálogo.
- Pô! Como é cansativo esperar alguém!
- É!
- Você trabalha por aqui?
- Sim. Disse eu com ar de "mais ou menos".
- O que você faz?
- Sou vendedor externo, fico mais na rua.
- O que faz aqui? Espera alguém?
- Não, estou só descansando.
VRUMMMMMMMMMMMMM
Tlanc, tlanc, tlanc, tlanc.
Passou um trem a cem metros de nós na linha que separa os bairros.
- E tú?
- Estou esperando um cara.
- Ele está demorando?
- Atrasado uma hora!
- É! Esperar já é chato, ainda mais quando está atrasado. Disse eu.
Ai ela pergunta: - Vendedor de quê?
Ao dizer a ela que eu era vendedor de consórcios ela desistiu de qualquer proposta indescente e disse.
- Bom, vou embora - Tchau!
Eu devia ter dito antes que esse papinho eu já conhecia e que se eu estava duro éra financeiramente.
hahahahaha!

Sorocaba, 20 de novembro de 2000

sábado, 18 de novembro de 2000

Incutindo o temor

Outro dia estava na praça da matriz e vi um jovem garoto que pregava o evangelho, gritando, pulando.
Passou a dar o testemunho de um tal de Cabo da Marinha que não acreditava em Deus, que teria levado 4 tiros na barriga, que o cabo estava no hospital, morrendo.
Que ele já tinha até o atestado de óbito dizendo "fulano, cabo da marinha, está prestes a morrer".
Já não bastasse tudo isso (inclusive um atestado de óbito ainda em vida), para aterrorizar de vez com as pessoas na praça ele soltou...
A mulher dele quis se separar antes dele morrer e assim ela foi para o Ceará e ele ficou só...
Imagino esse jovem, quando estiver maior, mais velho, quanto poder (através do temor) não vai exercer sobre as pessoas comuns.
Como seria melhor o mundo sem as algemas do medo e com todas as pessoas vivem em harmonia e a plenitude de suas vidas.

sexta-feira, 17 de novembro de 2000

Trabalho para inglês ver

Hoje o tempo está quente na praça da matriz.
Enquanto a policia vinha por um canto da praça revistando as prostitutas, usando para isso policiais femininas com luvas, nesse tempo, algumas prostitutas corriam pelo outro extremo da praça. Parece teatro!
Se a policia quisesse realizar um trabalho sério e não, virar piada, colocaria policiais em cada um dos cantos à espera de quem corresse.
Parece-me essa atividade tão piada quanto o relatório dos trabalhos realizados nos bares no último fim de semana:
Resultado - Nenhum menor bebia bebida alcoólica, todos estavam acompanhados dos seus responsáveis???!!!!
Não é o que vejo quando ando à noite.
Acho que estou precisando de óculos, digo, de tampão... enquanto outros precisam de óculos.

Ops!: Ia esquecendo! Os jovens da Catuaba continuam fazendo sucesso.
Hoje estão bem em frente a matriz.
Acho que descobri a solução para o salário mínimo, basta trocar o dinheiro e passar a pagar em pó de catuaba com guaraná.

17/11/00

quinta-feira, 16 de novembro de 2000

Pregando aos quatro ventos

Um jovem pregava a palavra de Deus, os passantes o consideravam doido e não o olhavam,nem mesmo paravam para ouvi-lo falar.
Ao seu lado direito uma roda enorme se formava para ver dois rapazes fazendo uma performance popular, malabarismos, truques de mágica etc, para vender um pacotinho de pó de catuaba com guaraná que rendia 1 1/2 litro de energético e remédio para mais de uns 50 males.
Ao lado esquerdo, dois garotos com uns 8 anos castigavam seus violões e o ouvido dos pedestres, cantando e as pessoas mesmo assim, davam um trocado.
Acho que até davam dinheiro de dó, pensavam assim "tadinhos com essas vozes vão passar fome!".
Sentado ao me lado estava um senhor, camisa estampada, manga curta, calça preta social, sapato e meias pretas, no bolso esquerdo tinha um guarda chuva, enfiado dentro, não sei como, mas conseguiu colocá-lo dentro. Só sei que era possível ver o cabo do guarda chuva ali no bolso.
Chegou um conterrâneo seu e começaram a conversar não prestei muita atenção mas mesmo assim, acabei ouvindo parte da conversa:
- Olá amigo, bla, bla bla bla.
- Tudo bem! Amigo, bla bla bla... dormindo Banco do Brasil.
- Banco do Brasil?
- É frente Banco do Brasil dormindo, bla bla bla.
- Até amigo!
- Até.
E seguiram, cada um para um lado.
Vejo um furgão da TV, parado ao lado da igreja. Está arguendo sua torre de transmissão.
Logo chegaram umas vãns com o que parece ser um grupo de coral formado por seminaristas e freiras, devem ter alguma missa especial na igreja.
Sentou ao meu lado uma garota, deve ter seus 15, 16 anos. Estava com um sorvete de casquinha na mão e creio que ela resolveu se divertir um pouco comigo ou estava "dando mole" para ser convidada para fazer um programa, pois, ajeitou os cadernos sobre o colo, virou-se lentamente para o meu lado e passou a chupar o sorvete de forma provocadora. Daquela forma que as meninas quando estão virando mulher, sabem fazer bem.
Ora lambia com a lingua, ora enfiava a casquinha toda na boca, sempre passando um segundo sentido.
Assim foi até acabar o sorvete, quando se levantou, sorriu e foi embora. Talvez decepcionada por não ter conseguido minha atenção.
Logo os homens do grupo começam a tocar na escadaria da igreja.
Se eu fosse mais religioso, talvez, pudesse afirmar que o diabo estava ali ao meu lado zombando dessa tarde de canticos religiosos!

Sorocaba, 16 de novembro de 2000.
Praça Fernando Prestes

terça-feira, 14 de novembro de 2000

Taxistas

Galeria Santa Clara
Sorocaba- SP, 14 de novembro de 2000.

De onde estou, neste momento, vejo um grupo de taxistas, um deles está se divertindo com a velha brincadeira de jogar uma imitação de dinheiro no chão, dobrada, para que as pessoas que estão passando se abaixe para pegar. A pouco uma menina entrou nessa brincadeira, agora, um senhor, em seguida, o taxista fica repetindo os gestos das pessoas para os outros rirem, dizendo:
- Pobre é doido para achar dinheiro...passa e zupt, pega o dinheiro.
Ele está se esquecendo que é pobre....portanto está rindo de si mesmo.
Ou vai querer convencer que é muito rico, mas, na verdade, está fantasiado de taxista porque tem como hobbie, dar corridinhas pela cidade, levando pessoas.
Hé! Hé! Hé!


segunda-feira, 13 de novembro de 2000

Tolices

Praça Carlos de Campos
Sorocaba - SP, 13 de novembro de 2000.

Um garoto sentado na praça, segurava um cigarro entre os dedos. Devia ter uns 13 anos no máximo, tinha o cabelo cortado estilo tigelinha e estava de bermuda, camiseta preta e tênis tipo All Star. Voltava da escola, pelo horário pois já eram 12:30h e estava com alguns cadernos nas mãos.
A cena era engraçada, pois, notava-se que ele não tinha a menor intimidade com o cigarro, não sabia nem como segurá-lo como levá-lo a boca, como tragar a fumaça, simplesmente enchia a boca e depois soltava a fumaça por entre os lábios. Cuspia o tempo todo.
Sim, também, era preocupante, significando que mais um jovem estava começando a fumar, mesmo assim, não deixava de ser uma cena cômica.
A melhor maneira de descrever a cena, é dizer para se lembrar daquele chimpanzé de circo, do seu jeito, de sua cara, quando davam um cigarro para ele. Ao mesmo tempo que eram desajeitados os seus movimentos, fazia pose para impressionar as meninas, querendo mostrar que já era homem.
Quantas atitudes tolas como esta, tomamos para nos convencer-mos que somos os tais.


Eleições nos EUA

Estive lendo as noticias no jornal que estava jogado no chão e, vi que o pessoal da Flórida não consegue votar direito para presidente.
Podiamos fazer uma troca. O Brasil ficava com a Flórida já que temos tecnologia para facilitar as eleições do pessoal e os Estados Unidos ficava com a Amazonia, já que dizem que tem tecnologia para cuidar dela.

* Se bem que tô achando que se os Americanos não conseguem nem votar, como é que vão conseguir cuidar do mundo?

Sorocaba - SP, 13 de novembro de 2000.

domingo, 12 de novembro de 2000

Prevendo o futuro

Esta eu ouvi de uma cigana experiente ensinando uma garota que iniciava no ofício de ler as mãos:
- Preste atenção! No começo para evitar muitos erros fale como eu vou falar agora. Com o tempo você vai aprender a ver no rosto das pessoas se estão gostando do que está falando e saberá o que dizer para impressionar o "cliente".
- Deixa eu ver sua mão...
- Hum! Vejo que muitas coisas boas irão acontecer com você.
- Espere! Xi! Algo de ruim poderá acontecer se você não ficar atento.
- Quanto a sua saúde, vejo que se você se discuidar e cometer abusos poderá ter sérias complicações.
- No amor tudo será muito quente, bom, gostoso, por um tempo. Você vai até pensar que dessa vez será definitivo...
- Não será! Vejo uma terceira pessoa em seu destino, que irá interferir no seu relacionamento.
- Dinheiro! Vejo que não será rico jogando na loteria, mas, vejo você muito bem financeiramente...hum...sim, estou vendo melhor! Sua riqueza será fruto do seu esforço, do seu trabalho.
- Filhos? Sim, vejo que será muito feliz, com dois.
Parece uma receita interessante e deve funcionar muito bem com boa parte das pessoas

Sorocaba - SP, 12 de novembro de 2000.

O Sábio

Na cidade onde cresci, existia um senhor que passava sempre em frente a casa onde morávamos, puxando um carrinho feito com uma geladeira e rodinhas de rolimã, onde recolhia papel, papelão e ferro velho.
Contavam que um dia ele já havia sido um jovem de boa família, e estava apaixonado por uma jovem, mas, de repente, ficou louco e saiu pelas ruas, largando tudo para trás.
Chamavam-no de "Sabugo", e o curioso é que ele parecia não envelhecer, o vi, na mesma rotina de minha infância até quando já estava adulto e com família formada. Pode até ser que ainda esteja vivo.
Acho que existe, ou existiu um "Sabugo" em cada cidade, talvez, parte da história sobre ele seja folclore. De qualquer modo, acho que de certa forma ele fosse uma espécie de monge, de Lama, pois sempre o vi sereno, nunca provocando ninguém...no máximo se defendia dos ataques dos moleques e dos boyzinhos.
E se ele não tivesse enlouquecido, mas apenas tido uma revelação!

Sorocaba - SP, 12 de novembro de 2000.

Conhecer de verdade

Quando eu frenquentava a faculdade... Sim! Já frequentei uma faculdade. Estudei Direito, alias, estudei direito o Direito, me dediquei ao máximo...fazer justiça era meu sonho, distribuir justiça aos que não tinham acesso à ela. Nessa época eu ia à pé para o curso...passava por várias praças...mas duas delas me eram especiais... uma ficava a uns cem metros de casa e a outra próximo a Faculdade. Eram as mais escuras à noite, portanto, menos frequentadas, permitindo aos mendigos, tirarem suas horas de sono.
Passava por eles e filosofava sobre os motivos de estarem ali, naquela situação. Queria ajudar, queria tirar todos dali, mudar o mundo.
Não consegui....o mundo continua igual....e pessoas continuam a dormir nas ruas, enquanto outras, que "ajudaram" estas pessoas a irem para as ruas dormem tranquilas.
Sei que algumas estão nas ruas por opção, outras por alienação, mas, existem os que estão nas ruas por não terem conseguido uma oportunidade de mostrar o que sabem fazer ou uma segunda chance, após terem cometido algum erro.
É uma pena que estejamos baseados na lição de que a primeira impressão é a que fica, é a que vale...muitas dessas impressões são falsificadas. Muitos erros de julgamento são cometidos por causa disso.
Precisamos, sim, é conhecer a alma das pessoas, antes de tirarmos nossas conclusões.

Sorocaba - SP, 12 de novembro de 2000.

sábado, 11 de novembro de 2000

Hotel mil estrelas

Praça Tancredo Neves
Sorocaba - SP, 11 de novembro de 2000.

Eu já tive automóvel, era lindo, azul metálico, sua cor chamava-se azul veneza, havia tirado na concessionária dois anos antes do que vou contar agora, era meu primeiro carro "zero".
Um dia, quando as coisas estavam começando a ficar ruins, os negócios não estavam dando certo e, eu já estava quase sem dinheiro, dormi dentro do carro.
Não como algumas pessoas fazem, durante o dia, por alguns minutos para descansarem.
Dormi uma noite inteira, estacionado ao lado de uma praça.
Procurei a que tivesse alguma segurança e encontrei, uma que tinha um prédio de apartamentos com um porteiro, bem em frente e um barzinho do outro lado. Liguei o alarme, deitei o banco e dormi...
Sonhei que dias melhores estavam por vir, que tudo seria passageiro, breve.
Na manhã seguinte, quando encontrei minha namorada e ela me perguntou onde havia dormido, pois eu morava em outra cidade e estava lá para passar o fim de semana com ela, disse, lembrando das estrelas que tinha visto antes de dormir:
- Dormi em um hotel!

.

sexta-feira, 10 de novembro de 2000

Um centavo

Aproximou-se de mim um senhor, aparentava uns quarenta e poucos anos, magro, não ao extremo, apenas magro com barba de três dias, e me pediu:
- O senhor tem algum trocado para me dar, nem que seja um centavo?
- Você quer um centavo? Perguntei, enquanto pegava o centavo no bolso.
E ele me respondeu:
- Bem, pode ser dez centavos, mesmo.

Sorocaba - SP, 10 de novembro de 2000.

Fundo musical

"Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nos livros..."
De repente veio esta música do Belchior na minha cabeça e se instalou em meu pensamento, onde deverá permanecer como fundo musical por horas e horas.

quinta-feira, 9 de novembro de 2000

Dicas de auto-ajuda

Para adquirir estabilidade financeira:
1o.) Escreva um livro de auto ajuda;
(se a renda não for suficiente, leia o seu livro e escreva um segundo livro com suas interpretações do primeiro.)
Isto tem funcionado para muita gente.

Campanhas publicitárias

Sentado, olhando para anúncios nas lojas e folhetos me vieram algumas sugestões para campanhas publicitárias, eis algumas:


"Compre terço, por 1/3 do preço" - Loja de artigos religiosos

"Alugue um quarto por 1/4 do que você imagina" - Imobiliária

"Compre à vista ou à perder de vista, financiamos tudo em até 36x" - Agência de Veículos

"Moça bonita não paga...Alguem sempre paga para ela" - Motel Love

"Você vai morrer de rir com nossos preços promocionais" - Funerária Sossego

"Nossos preços são minis.....mini blusa R$ 6,00; mini saia R$ 12,00" Confecções Seda

"Aproveite! Cortamos nossos preços" - Dinho Cabeleireiros

"Quando vier a França, deixe seu coração em Paris" - Clinica de orgãos Notre Dame

"Fazemos sua vista, à prazo" - Clinica de olhos vista alegre

"Todas as portas se abrem para você!" - Fabrica de arietes Barra Forte

Cansado de ler as noticias de ontem? - Temos a solução..." - Bola mágica produtos esotéricos

"Ninguém nunca reclamou de nossos vôos" - Viação aérea Kamikase

"Viaje tranquilo" - Funerária Wings, traslados nacionais e internacionais

"Traga seu amigo e, terão 50% de economia na compra de uma camiseta" - Loja Tio Patinhas

"Pode deixar que nós fazemos o trabalho sujo." Companhia de limpeza urbana

"Essa empresa optou pelo SIMPLES, favor não insistir, não emitimos notas." Camelo's Import's

Para quem quer ficar distante dos cursos, Curso à distância! - Faculdades Semfre Quência!

Essa é para anuncio em sessão de acompanhantes.

"Beba com moderação! – Ligue para a Moderação no fone (99) 9999-9999.



Sorocaba - SP, 09 de novembro de 2000.

Seleção; natural

Estava observando um rapaz que preenchia vários currículos e me veio a questão:
Já observaram como algumas empresas estão, extremamente, exigentes nos processos de seleção de pessoal?
Elas procuram pessoas com experiência comprovada em carteira, mas, não querem ninguém com vícios dos trabalhos anteriores e, nem pessoas com idade avançada (mais de 20 anos).
Procuram pessoas desinibidas, determinadas, com vontade de fazer e de crescer, mas, quando o candidato começa a perguntar alguma coisa sobre a empresa e o salário, já descartam, alegando serem futuros problemas.
Precisam de lideres, mas, nos testes, preferem aqueles que têm letra de cordeirinhos, redondinha, a famosa letra de cartilha.
Exigem pessoas que nunca cometeram erros em seus trabalhos anteriores, mas, se esquecem que a probabilidade de quem nunca errou, errar agora, e justamente, na sua empresa, é maior. Isso sem falar que é com os erros que se aprende a acertar.
E quando o processo de seleção fica a cargo do futuro "chefe". Ai, a coisa fica pior...
Se o "chefe" é bom no que faz e trabalha corretamente, comete o erro de procurar sempre pessoas iguais em aparência e comportamento. Depois, quando a empresa está estagnada, sem idéias novas, sem outros pontos de vista, não sabem o porquê.
Se o "chefe" não é lá um "brastemp", e está mais é afim de deixar o barco correr, vai procurar pessoas sem coragem, sem ânimo, que obedecem ordens cegamente. Isto para não correr o risco de surgir alguém melhor do que ele.
Em outro extremo, temos algumas empresas de Marketing e as empresas ".com", que contratam as pessoas só por serem diferentes, sem a preocupação de encontrar nos candidatos algum ponto em comum, como:
Espirito de equipe;
Vontade de crescer licitamente;
Amor pelo que faz e não amor pelo dinheiro e,
Etc.
Resultado:
As empresas "reais" estão tendo dificuldade de continuarem se destacando no mercado e as empresas ".com" não estão conseguindo sobreviver por muito tempo.
Talvez, uma das causas esteja na forma de seleção baseada nos testes, nos antecedentes, não nas palavras do candidato.
Pode ser que uma forma de resolver esses problemas, seja apostar mais nas palavras dos candidatos e apostar em contratos de experiência. O aumento nos custos a curto prazo, resultará em benefícios muito maiores, a médio prazo.
Vale lembrar que alguns dos maiores talentos e gênios, também sofreram alguns tropeços em suas vidas.

Sorocaba - SP, 09 de novembro de 2000.

Apelação

Outro dia soube de um jovem que resolveu apelar, pois estava precisando de um dinheiro.
Vestiu uma camisa esportiva, um jeans de marca, tênis, arrumou o cabelo e foi para uma esquina, decidido a dar duro. Bom, não necessariamente nessa ordem...
Passou um tempo e chegou um carrão importado, esportivo, com dois senhores dentro, pararam e perguntaram se ele conhecia onde poderiam encontrar alguns garotos de programa.
Ao que prontamente respondeu:
- Vieram ao lugar certo, sou um garoto de programa!
O Passageiro olhou para outro dizendo:
- Xi! Isso deve ser pegadinha! E caíram na gargalhada, saindo em disparada com o veiculo.
Acho que pensaram que ele era garoto de programa humorístico.

Sorocaba - SP, 09 de novembro de 2000.

Por pouco

Ufa! Quase não tem histórias, hoje.
Motivo?
Falta de banco disponível nas praças.
Num país com tanta abundância, elas merecem um descanso, de vez em quando.

Sorocaba - SP, 09 de novembro de 2000.

Sons que nos fazem relembrar o passado


Tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec.
Esse barulho tão conhecido.
Lá vem o "home do bijú"
Tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec.
Sentado na praça, ouço esse barulho, olho em direção ao som e a imagem do senhor com os bijus me remetem de volta no tempo.
Relembro meus onze anos; tempo dos colegas de escola, dos amigos da vizinhança... Das brincadeiras de rua, como cabra-cega, pique esconde, pião, passa anel, entre outras.
Lembro das cabanas nas árvores, no meio do mato.
Época em que não havia malícia, e ir para o mato com os amigos e com as amigas era apenas uma aventura, uma brincadeira de caçar, de fingir estar numa selva.
Logo estaríamos comemorando o fim do ano na escola, colhendo as assinaturas nas camisetas e, nossa maior preocupação, seria o que escolher de presente para o Natal.
Tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec.
Esse barulho que era tão esperado.
Lá vai o "home do bijú"
Tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec, tec-tec.
E com ele, meus tempos de infância.
Sorocaba- SP, 09 de novembro de 2000.

Palhaçada


Já dizia um velho e sábio palhaço:
"Uma coisa é fazer os outros rirem e outra é rir dos outros;
aquele que faz a primeira é o palhaço, o que faz a segunda é o sádico."
Tem um rapaz em uma loja do centro da cidade, que se veste de palhaço, só se veste, pois, não tem o espirito cômico necessário a profissão. Ele fica anunciando promoções da loja. Entre um anúncio e outro, ele fica provocando os pedestres.
Outro dia o vi passar dos limites do bom senso e creio, ajudou a loja a perder alguns clientes. Ficava tirando uma, com a cara das pessoas que estavam numa longa fila do caixa eletrônico, causada esta pela greve dos bancários, digo, dos funcionários de um banco estatal.
Ele dizia num microfone que, palhaço não era ele e sim, as pessoas que estavam na fila a "5 horas" ou, os que tinham votado no governo "x" etc.
Isso não faz rir, provoca irritação contra quem está falando. Para fazer rir tem que deslocar o personagem da piada.
Todos estariam rindo se ele contasse que um dia, em uma fila, alguém, observou ao olhar o palhaço que palhaço era ele que estava na fila.
Há! Claro, ajudaria também, se ele não repetisse a mesma "piada" dez vezes em menos de quinze minutos.
Sorocaba - SP, 09 de novembro de 2000.

Vassouras

Imagem da dupla em 2011



Conhecem uma dupla de senhores que vendem vassouras?
Já os vi em outras ocasiões e confesso que achei a cena cômica para não dizer triste.
O primeiro guia o segundo, que é cego.
Agora, imaginem a cena: Um, segurando maços de vassouras por cima dos ombros, puxando um outro senhor, atrás, também lotado de vassouras por sobre os ombros.
Quantas trombadas já não ocorreram, quando alguém, simplesmente, não percebe que um deles é cego.
Ainda bem que são senhores.... se fossem jovens estaria aberta a temporada de risos.
Pensem no 1o. Aprontando para o colega. No meio de uma multidão, no centro da cidade, dizendo:
- Agora vamos para a direita!
- Agora esquerda!
- Ôpa! Éra para esquerda!




Sorocaba - SP, 09 de novembro de 2000.

A última fronteira

O que me torna diferente do Sr. Que está sentado em outro banco desta praça?
Ele está sentado sozinho, fala consigo mesmo, porém, as vezes em voz alta, para, pensa, olha para os lados e, pega uma sacola plástica, dessas de supermercado, tira umas páginas de revistas e se põe a ler...
Ele não está sendo produtivo e com certeza não está fazendo o que se propôs a fazer no dia de hoje.
Se não fosse o fato de ele estar alcoolizado, poderia dizer que acabei de me descrever.
Talvez eu também esteja embriagado, por fantasias, por sonhos, por esperanças sem atitudes ou, aquele homem seja uma visão do meu futuro!



Sorocaba - SP, 09 de novembro de 2000. Praça Carlos de Campos.

quarta-feira, 8 de novembro de 2000

Concorrência acirrada

Estamos em uma época em que o mercado de trabalho está altamente concorrido. As pessoas precisam ser extremamente competitivas e ágeis.
Até mesmo para juntar latas de alumínio.
A cada 15 minutos tem alguém mexendo nos containeres de lixo, atrás delas.

Bêbado iluminado

Estou num banco da praça que fica numa galeria de lojas. Em frente a uma loja de artigos religiosos. Esta, vende produtos católicos.
Católicos! Religiosos! Tem certeza?
Vende papai Noel que toca música e acende luzes, dos mais variados tamanhos e gostos. Bíblias dos mais variados formatos, desde o "pocket" com encadernação simples até os famosos "tamanho família", com encadernações à ouro e suporte para colocar em cima de algum móvel na sala e juntar poeira, mas, não esqueça de que ela tem de ser colocada em um local bem visível, para que os visitantes pensem:
- Nossa! Eles lêm a Bíblia.
Se o proprietário for caprichoso chega a mudar de página de vez em quando.
Devem estar perguntando:
E o bêbado? Onde ele entra na história?
- Entra agora. Devo responder, pois, estava escrevendo algumas linhas acima quando apareceu um senhor.
Ele vinha pedindo dinheiro de loja em loja, mas, não estava conseguindo nenhuma moeda.
De repente entrou na loja de artigos religiosos, pediu alguns trocados para a balconista. A resposta foi negativa.
Ai, ele teve a iluminação!
Pediu um "santinho" e saiu pedindo trocado em nome de Deus e dizendo o que para ele deveria soar como uma oração.
Moral da história:
Deus ajuda até quem tá fora de órbita ou, se preferir,
Há sempre um bêbado perto de você

Sorocaba - SP, 08 de novembro de 2000. Praça interna da Galeria Santa Clara.

terça-feira, 7 de novembro de 2000

Tudo pelo social

Dizem que algumas prefeituras estão investindo na área da assistência social.
Estão comprando micro ônibus executivos, com ar condicionado, para transportar os pedintes até outras cidades.

segunda-feira, 6 de novembro de 2000

Não alimente os pombos

Ordem tão sem força quanto "Não jogue lixo nas ruas", "Não cuspa no chão" ou "Não pise na grama". Alias, já notaram como o ser humano adora cortar caminho pelos jardins das praças?
Sei que alguém deve ter pensado:
- Porque não se faz, então, caminhos acimentados no meio dos jardins, para as pessoas passarem?
A solução não é tão simples assim. Se forem construídos tais caminhos, poucos passarão por eles, pois, há uma necessidade natural de contrariar regras.
É o momento em os que não podem ou não conseguem contrariar as ordens de seus "chefes" no trabalho, de suas esposas ou esposos, de seus pais, resolvem contrariar a ordem pública de seguir pelo caminho indicado.
Mas, voltando a falar de pombos...
As pessoas continuam a dar comida aos pombos, mesmo sabendo que eles são, digamos, nocivos à saúde humana, que a poeira de suas fezes secas, respiradas, causam infecções pulmonares graves.
Pode ser que as pessoas, principalmente as que vieram do campo, se identifiquem com os pombos, pois, também, migraram do campo para as cidades em busca de alimento e do brilho das luzes que as iludem a acreditarem que aqui é um lugar melhor.

Sorocaba - SP, 06 de novembro de 2000.

A Santa Ceia

Sentei no banco da praça Tancredo Neves, na sombra, formada pela maior árvore da praça, enquanto mato minha sede com um copo de água. O vento sopra um ar que torna tudo mais refrescante, vinha em sentido que parecia ser um sopro dos céus contra o sol, como se Deus quisesse apagá-lo, ou que ele se deitasse mais cedo.
Olhei num outro canteiro que tem vegetação mais densa e baixa e vi várias pessoas que dormiam à sombra das árvores, sobre colchões de papelão.
Agiam alheios ao barulho dos carros que passavam na rua ao lado.
Estão com aparência de mendigos, como quem vem usando a mesma roupa à vários dias.
Vejo um se levantar, cambaleando, tropeçando parece que acabou de rodopiar numa brincadeira de cabra-cega.
Percebe-se que tomaram muitas doses de pinga para não lembrarem da fome, do medo de deitar ao relento e para esquecerem que um dia sonharam que seriam alguém.
Um deles está tão embriagado que não consegue sequer ficar em pé, tendo literalmente caído ao se levantar, mas, por incrível que pareça, ele não largou uma vasilha de plástico, vazia. Provavelmente esta vasilha usada, como marmita para pedir alimento, seja seu último e precioso bem.
Acordam e sentam em roda entre as árvores, nesse momento percebo que há um líder entre eles, pois estão olhando para ele. O líder começa a falar, fazer, gestos tirando sorrisos dos demais. Pega um pacote de bolacha água e sal e começa a dividir com os demais...

Sorocaba - SP, 06 de novembro de 2000. Praça Tancredo Neves.

quinta-feira, 2 de novembro de 2000

Pão com mortadela



Já bebi whisky do bom e fumei bons charutos, em rituais de "conversas de advogados". Situações em que levava alguns charutos para o outro advogado e dele, ganhava alguns.
Discutiamos pontos contraditórios, bebiamos riamos e assim era a vida.
Hoje, quando ganho um prato de comida, fico muito feliz.
Imagine minha alegria quando alguém me chama para almoçar com ela, arroz, feijão, um bife ou linguiça, com guaraná popular.
Não estou triste, pois aprendi a viver a vida com alegria e tirar dela tudo de bom que puder.
Hoje não está pior ou melhor que antes, está apenas, diferente.
Já comemorei um aniversário meu, com um colega e pão com mortadela, mas é claro, que para a ocasião especial a mortadela era Ceratti.

segunda-feira, 30 de outubro de 2000

Fim de tarde

Olho as crianças correndo atrás dos pombos; um avô brincando com seu neto e pessoas apressadas.
Esta não é uma praça como as de São Paulo mas, tem de tudo um pouco. Há alguns minutos passou por aqui um "Batman" com sua mochila, levando o que deveria ser sua marmita usada no almoço, deve estar voltando para casa depois de um longo dia de serviço...
Vejo, também, um palhaço que parece estar começando no ramo agora, ou melhor no ramo das promoções de loja fantasiado de palhaço, pois, parece estar querendo criar coragem de falar em público e age com certa timidez. Está num canto onde poucas pessoas passam, ensaiando seus textos:
- Promoção! Promoção! Lojas de tecidos "TAL", as melhores confecções...
Os sinos da igreja começaram a tocar, anunciando seis horas da tarde e, em seguida, a praça começa a ter uma sonoridade diferente, parece até uma música. São vozes...
Esta é a ora que pessoas comemoram com alegria o fim do dia, alguns, por ter sido muito bom e produtivo, outros, por não aguentarem mais esperar o dia acabar.
E eu, agradeço mais um dia, se não produtivo financeiramente, ao menos, um belo dia, um belo e florido dia, em que vi pessoas sorrindo.

Sorocaba - SP, 30 de outubro de 2000. Praça Cel. Fernando Prestes.

terça-feira, 24 de outubro de 2000

Tudo por uma latinha

Devia ser umas 11:00h e muitas pessoas já estavam almoçando, quando, chegou uma mulher com uma sacola plástica, cheia de latinhas de alumínio. Aproximou-se da senhora que estava sentada tomando refrigerante enquanto esperava ficar pronto seu lanche, um "cachorrão", como dizem em Sorocaba, e perguntou:
- Moça, sê me dá a latinha?
E a senhora respondeu:
- Dou, mas está cheia!
Não tem pobrema, eu espero! Afirmou a primeira parando, em pé, a um palmo de distância da senhora que ficou constrangida e pediu para a mulher dar uma volta e depois retornar, para pegar a latinha.
Que nada, a mulher não arredou pé dali.
Quando o lanche chegou a mesma sentou colada a senhora, olhou a latinha e, insistiu:
- Mas a senhora não vai me dá a latinha?
A essa altura a senhora já estava irritadíssima, guardou o lanche, bebeu o resto do refrigerante e foi embora, levando consigo a latinha.


Sorocaba - SP, 24 de outubro de 2000. Praça Carlos de Campos

Era glacial

Os dias foram passando e com eles algumas esperanças.
As empresas em que havia feito entrevistas, não me retornaram as ligações telefônicas prometidas, com as informações sobre o processo de seleção. Nas que insisti com contatos telefônicos sempre desconversavam com argumentos de que o processo estava suspenso, que quando retomassem o processo entrariam em contato, etc...etc...etc...

segunda-feira, 23 de outubro de 2000

Esperem....

Não quero falar de problemas e sim, de soluções, das coisas engraçadas e das descobertas que fiz quando passei a perambular pelas ruas.
Como fiquei muito tempo nas ruas entre uma entrevista e outra ou, à espera da hora de voltar para a república, passei a fazer algumas observações.

sábado, 21 de outubro de 2000

A república (sem patrão)



Cheguei em uma tarde, já tinha a indicação do lugar e havia ligado para o proprietário, marcando a hora do encontro na república, embora o mesmo insista em chamá-la de pensionato.
Era uma casa simples, nada demonstrava morarem lá, muitas pessoas, exceto, duas placas pequenas anunciando quarto para rapazes, nesta, e para moças em outro local, além, do telefone para contato.
No portão encontrei três senhores que conversavam, bem, na verdade dois escutavam um que filosofava, este, estava vestido com um velho paletó, já surrado pelo tempo.
Entrei, conheci os quartos disponíveis e optei por um que ficava no térreo, de frente para uma área de serviço e um banheiro.
Sentamos nas cadeiras dispostas na sala para que eu pudesse preencher um cadastro. Quando comecei a falar de mim o senhor disse:
- Não precisa, saberei melhor quem você é com o tempo!
Paguei e nos despedimos, entrei no quarto para apreciá-lo um pouco melhor e achei enorme o guarda roupas, depois descobriria que seria muito pequeno para as roupas que deveria trazer, e fui até a rodoviária buscar as malas .
Instalei-me naquela noite, cheio de esperanças e certo de que seria chamado para trabalhar no dia seguinte. Dormi sonhando que todos os problemas seriam resolvidos, com os frutos do trabalho, sabia que o caminho seria lento, mas, acreditava que seria positivo, que voltaria a ver minhas filhas com frequência, logo seria aceito pelos pais da noiva e poderia casar.

sexta-feira, 20 de outubro de 2000

Como tudo começou


Havia um menino, nascido em tempos de Beatles, época de guerra do Vietnam, do homem tentando ir à lua, da guerra fria, da morte de Martin Luther King, de ditadura militar.
Quando criança devorava livros, lia de tudo, bíblia, enciclopédias, livros científicos, dicionários, rótulos de produtos e bulas de remédios. Decidiu ser cientista, queria ter uma vida igual à dos grandes nomes que lia, Einstein, Fleming, Sabin, Pasteur.
Precisando trabalhar, deixou estes sonhos de lado, mas, continuou estudando. Quando jovem, mudou seus planos, queria ser juiz. Fazer justiça, pensava, é o que quero.
Estudou muito para isso, formou-se e, ainda na faculdade, embora homem adulto, sentia seu coração acelerar sempre que imaginava a possibilidade de fazer justiça.
Precisando trabalhar e cuidar de sua família, deixou este sonho de lado, mas, continuou sonhando e logo arrumou um bom emprego, contudo, o destino reservara algumas surpresas para ele e o rumo de sua vida mudou completamente.
Quando pensou estar crescendo, estava caindo;
Quando pensou estar evoluindo, estava involuindo.
Não roubou, nem matou, mas deixou seu coração se encher de rancor, de tristeza.
Caiu...
Foi até o inferno e voltou, voltou mais forte, mais puro, mais entusiasmado. Derrotou muitos fantasmas que o assombrara por longos anos.
Sabe que é capaz de realizar tudo o que quiser. Sabe que será o que quiser ser e fará o que se dispor a fazer.
Do mundo físico carrega pouca coisa, tendo apenas uns trocados no bolso e alguns papéis onde anotou tudo o que já fez e sabe fazer.
Conta sim, com fortes armas para vencer. O amor à vida e a fé na vitória.
É possível ver seus olhos brilhando de esperança.
É a história dessa esperança, dessa visão alegre do mundo, embora às vezes com um pouco de melancolia, que ele passa a nos contar.