domingo, 25 de abril de 2010

Donos da Rua



Brasileiro é um bichinho divertido, devem dizer os extraterrestres!
Se ficarem olhando o que fazemos, vão morrer de rir.
E a copa do mundo é o melhor momento para isso.
Com a desculpa de um pseudo patriotismo, saímos mais cedo do trabalho ou sequer vamos trabalhar nos dias dos jogos, vestimos roupas nas cores de nossa bandeira e enchemos nossa cara nos butecos da vida, ou churrascos com os amigos.
Na foto acima, um grupo de vizinhos, agindo como os "Donos da Rua", fecham a calçada para montar a churrasqueira e cadeiras, e fecham a rua para repintar o chão.
Tudo em nome do mais "puro Amor à Seleção"!
É um "patriotismo" tão forte, tão verdadeiro que no domingo seguinte ao final da copa, já mudou de cor!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Comendo as Migalhas da Alta Sociedade


Sorocaba, 19/04/2010 12:34h
Campolim

Como a empresa onde estava trabalhando fechou a mais de 20 dias, uso meus últimos trocados para compra um lanche no Burger King.
É um dinheiro guardado no fundo da carteira, atrás dos santinhos e dos cartões de visita e que eu só deveria gastar quando fosse uma emergência.
E é!
Meu coração está agoniado e por instantes me vejo sem perspectivas de futuro.
Não tenho dinheiro, sequer, para comprar um segundo lanche, quanto mais para começar um novo negócio.
Peço meu lanche e vou para a varanda da lanchonete, que fica  de frente para a principal rua do bairro.
A lanchonete está lotada de jovens estudantes da escola particular que fica ali perto.
Com exceção de duas meninas que desistiram de ficar na fila, porque o dinheiro delas não era suficiente para comer um lanche, os demais jovens, talvez, nunca, tiveram problemas com falta de dinheiro.
Na rádio tocam músicas da década de 80, e me lembro que naquela época eu, também, não sabia o que era falta de dinheiro. Na verdade eu até tive dificuldades pela falta de dinheiro, mas, eu me divertia muito com elas.
Automóveis absurdamente caros param na porta da lanchonete para pegar os filhos depois da aula e do almoço deles.
O Asfalto está quente e liso e os pneus cantam a cada vez que o sinal abre para aqueles que estão subindo a rua.
Um jaguar passa alheio à minha angústia.
Elevo meu olhar e me perco entre as janelas das casas do condomínio.
Seus telhados limpos, suas paredes claras em tons de verde, azuis, rosas, amarelos e brancos e suas incontáveis janelas.
Um pardal e dois pontos pousam perto de mim e, passam a se alimentar das migalhas da alta sociedade.
Neste exato momento toca a música do IRA, "Envelheço na cidade..."
Enquanto na mesa ao lado, sentam uma funcionária da lanchonete e um jovem, para ele assinar o seu contrato de trabalho. Talvez o seu primeiro emprego.
Sem dúvida é um sinal para que eu me lembre que a vida sempre segue seu rumo e tudo se repete em ciclos, pois, um dia, também fui jovem e assinei o meu primeiro contrato de trabalho.
Quando começo a pensar que sou como um pombo e por isso vivo das migalhas da sociedade, pego m eu lanche e dou a primeira mordida.
A cada mastigada, vou me perdendo no sabor e esquecendo que sou um pombo, enquanto toca na rádio "Fácil, extremamente fácil..."

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Uma loira em minha porta



08/04/2010 11:45h

Estou no quarto, do apartamento, trabalhando em meu notebook, escrevendo em meu blog, quando ouço passos na escada.
Em seguida, o barulho de uma mulher abrindo a bolsa e procurando as chaves.
Paro tudo o que estou fazendo e fico atento, a chave entra na fechadura e a mulher tenta virar a chave, que resiste.
Como toda mulher, ela não desiste fácil e continua tentando, uma, duas, três vezes, para um lado e para o outro.
Tira a chave e enfia de novo, e continua tentando.
Me levanto, de cueca preta e camiseta azul claro e, caminho preocupado em direção a porta, pensando ser minha esposa que chegou mais cedo do trabalho e por algum grave motivo está confusa e não consegue abrir a porta.
A medida que vou chegando perto da porta, tento ver se a minha chave, pelo lado de dentro pode estar emperrando a fechadura.
Não! Não é isso!
Quando já estou prestes a girar a chave e abrir a porta e perguntar “Meu amor, o que houve?”, tenho o “insight” de olhar pelo olho mágico e vejo uma loira olhando para a bolsa, procurando alguma coisa dentro dela, enquanto continua com o braço estendido tentando girar a chave na fechadura.
Não consigo ver seu rosto, mas já sei que não é minha esposa.
Ela só para de tentar girar a chave na fechadura, quando eu pergunto:
- Tem certeza que quer entrar aqui?
Ela ainda insiste: - Sim! (Até um santo, neste momento começa a ter fantasias. E saiba, que estou bem longe de ser um santo!)
Respirando fundo e caindo na realidade, repito:
- Quer entrar no apartamento 41?
Mais uma vez a resposta é: - Sim!
E me vejo forçado a tentar fazer com que ela, também volte à realidade do mundo.
- Quer entrar no apartamento 41 de Márcio Eiras?
Nesse exato momento ela encontra o que procura na bolsa, para de tentar abrir a fechadura, pega um papel dentro da bolsa e desdobra até transformá-lo de volta em uma folha de papel A4.
Lê as anotações nele e envergonhada, começa a se lamentar:
- Desculpa! Me desculpe! Não! Não! É no apartamento vinte e...
Sai apressada escada abaixo, enquanto tento acalmá-la dizendo:
- Tudo bem! Tudo bem! Essas coisas acontecem!

Agora que tudo passou, e meu coração já não está mais disparado com o susto, pergunto:
- Isso, realmente acontece com as pessoas?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Xepa no CEAGESP



"Há o suficiente no mundo para todas as necessidades humanas, não há o suficiente para a cobiça humana." (Mahatma Gandhi)


Estou a poucos meses trabalhando como vendedor de alimentos em um box do CEAGESP de Sorocaba e uma coisa me perturba.
O desperdício de alimentos!
Observo o quanto é jogado no lixo, só aqui no CEAGESP e fico imaginando o quanto mais não é desperdiçado desde a produção dos alimentos até o efetivo momento dele ser consumido.
Desperdício na produção, no momento de embalar, no transporte até o entreposto, no armazenamento, no momento da venda para o comerciante.
Depois vem o desperdício no estabelecimento do comerciante, na casa do consumidor e até depois de preparado e servido, quando as pessoas jogam as sobras de seu prato, no lixo.

Aqui na minha frente, vejo comerciantes em seus carrões importados cobrando caro pelos alimentos e ao mesmo tempo, pessoas a pé ou em carro velho, catando com as mãos as sobras no latão de lixo ou jogadas pelo chão.
Alimentos que por uma questão de cultura, não servem para comercialização, só por não estarem na cor ou textura ideal, são arremessados no chão ou nos containeres sem o menor remorso.

Sei que há um banco de alimentos que reaproveita os alimentos doados, mas, isso ainda é pouco.
Não é a maioria que tem consciência de doar os alimentos que estão fora do padrão comercial.

Sinto que preciso fazer algo para mudar um pouco este quadro...
Pode ser apenas uma gota de água no bico de um beija-flôr, contra uma floresta em chamas, mas... preciso fazer a minha parte!



Assim, começo o trabalho de formiguinha para que, ao menos hoje, em algum prato que antes estava vazio, alguém encontre comida.